segunda-feira, 25 de outubro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

curta é a vida, longa é a paixão

Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho,
mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho
e, pensando bem, um berçário não é o melhor lugar.
Nós dois de fraldas, lado a lado
cada um recém-chegado.
Você sem poder ouvir, eu sem saber falar.

Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Com um PS num pedido de cola
interceptado pela professora feito gavião.
Eu fui parar na diretoria
enquanto você, desalmada, ria
- curta é a vida, longa é a paixão.

Numa festinha, ah, suas festinhas, disse tudo:
"Te adoro, te venero, ma tua frente fico mudo."
E você tomando goles de um silencioso Hi-Fi.
Só mais tarde eu atinei:
cheio de Cuba e amor, me enganei.
Tinha dito tudo para o senhor seu pai.

Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome e o meu, flechas, palpitações.
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou pessoa pouco grata
corrido aos gritos de "Mata!"
por ambientalistas e afins.

Recorri, desesperado, a um gesto obsoleto:
"Se não me seguram, faço um soneto!"
E não é que fiz, e até com boas rimas?
Mas você nem ficou sabendo.
Ele continua inédito, por você plangendo
- mas fui premiado num concurso de Minas.

Comecei a escrever, com pincel e piche
em muros brancos, o asseio que se lixe,
todo o meu amor para a sua ciência.
Fui preso aos socos e fichado.
Dias e mais dias interrogado.
Era PC, PC do B ou outra dissidência?

Te escrevi com lágrimas, suor e mel
(você devia ver o estado do papel)
uma carta longa, linda e passional.
Como resposta nem uma cartinha.
Nem um cartão, nem uma linha!
Vá se confiar no Correio nacional...

Com uma serenata, sim, uma serenata
como as do tempo da "Cabocla ingrata"
me declararia, respeitando a métrica.
Ardor, tenor, calçada enluarada
havia tudo sob a sua sacada
menos tomada pra guitarra elétrica.

Decidi, então, botar a maior banca
e escrever no céu com fumaça branca:
"Te amo, assinado..." e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê
tudo para impressionar você...
Veio a crise do petróleo e faltou o combustível.

Ontem finalmente cheguei ao seu ouvido
e, na discoteca, em meio ao alarido
despejei o meu pobre coração.
Falei da devoção há anos entalada
e você disse: "Com essa música, não escuto nada!"
Curta é a vida, longa é a paixão.

Na velhice, num asilo, lado a lado
em meio a um silêncio abençoado
te direi tudo o que eu queria, meu bem.
Meu único medo é que então
empinando a orelha com a mão
você me responda... "Hein?"

(LFV)



é dele, mas fato que podia ser meu.

e vamo que vamo!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

antes o atrito que o contrato



“Be yourself, everyone else is already taken." Oscar Wilde

uhuhu

Tô empolgada!! 3 posts seguidos... haha... surtei.

salve, salve

Blog reaberto e pronto pra próxima!! :))

Porque têm coisas que deveriam ser simples e não são. Olha, confesso que adoro complicar, sou complicada pra caralho e tal. Mas acho que têm coisas que, se não são simples, se não são leves, talvez não sejam mesmo pra ser. E o que não tem solução, solucionado está. E como diz Iara, sozinha é histerismo. E essa vida é muito mais, né não?
Uma pena.. fato. Sinto - portanto, sei - que é uma pena. Mas tantas outras coisas são, fazer o que? Não faz o menor sentido insistir. Saltar. Nunca fui fã de altura, mesmo.
É isso. Bora viver.

Ah, preciso concordar aqui com uma coisa que ando ouvindo bastante ultimamente: sou egocêntrica. Assumo. Devo ser mesmo, só pode. Sabe quando você supõe que algo seja relacionado à você? Aí não é. Nunca é. Aí você vê que realmente, ou você é mega egocêntrica (leão com áries, explica?), ou burra. rs. Ou mané. ;)

E só pro blog ficar com conteúdo nesse dia maravilhoso do regresso, aí vai um texto sobre a simplicidade das coisas. Que levei uma bronca por tê-lo postado no lugar errado. rsrs
Então agora aí vai, no lugar certo.

E vamo que vamo!



Sherlock Holmes e Dr. Watson vão acampar. Montam a barraca e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir. Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo: -- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê. Watson responde: -- Vejo milhares de estrelas. Holmes então pergunta: -- E o que isso significa? Watson pondera um pouco, depois enumera: -- Astronomicamente, significa que há milhares de galáxias e bilhões de planetas. Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte. Temporalmente, deduzo que são cerca de 3h15, pela altura em que se encontra a Estrela Polar. Teologicamente, posso ver como Deus é poderoso e que somos pequenos e insignificantes. Meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?
Holmes fica um minuto em silêncio, então responde: -- Watson, seu idiota, significa apenas que alguém roubou nossa barraca!!!
 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

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Tudo por não estarem mais distraídos

Como não estou afim de escrever mais nada, aqui vai um texto que fiz há tempossss no fotolog. Escrevi a parada em 2005, mas é impressionante como é atual. Infantil, talvez, mas atual. Pois é. A vida é cíclica...


Tudo, tudo por não estarem mais distraídos...

É impressionante como a Lei de Murphy se faz presente. Na verdade, acho que não é nem culpa do coitado do Murphy. É mais culpa da Clarice Lispector, uma coisa meio “por não estarem distraídos”, sabe.
Não sei se é só comigo – é, o universo às vezes conspira contra mim – ou se todo mundo sente isso. Só sei que quando não reparo nas coisas elas acontecem, se desenrolam, fluem. Agora, é só eu começar a reparar, prestar atenção e querer de verdade que aconteça, que a coisa toda trava. Empaca. Fode mesmo.
Talvez se eu não pensasse tanto. Mas não tenho como parar de pensar. Quando me pego analisando, raciocinando, reparando, invejo profundamente as pessoas simples. A lavadeira do interior. A camponesa humilde. A mulher de pé no chão. Ícones de pessoas que levam a vida de um jeito mais simples, menos pensante. Mas não tenho como evitar. Penso, analiso, raciocino, reparo. Sou assim. E adoro. E detesto. E tem horas que só o que eu preciso é fugir. Escalar o Everest. Andar na Bahia com a água molhando o pé. Ver o pôr e o nascer do sol. Simplificar. Sair daqui.
Mas sozinha não tem graça. Sozinha não quero. Sou comunicativa. Preciso falar, ouvir, aprender. Preciso ver o pôr do sol e chorar com alguém. Preciso olhar as estrelas e rir com alguém. Preciso. Preciso criar teorias infundadas sobre a vida. Inventar constelações. Ter imensas conversas que não levam a nada. E que ao mesmo tempo, a tudo. Preciso. Preciso de reciprocidade. De cumplicidade. De verdade. Preciso.
Preciso daquele contato com os olhos. Aquele olhar que diz tudo, sem dizer nada. Mesmo sem som, a comunicação existe, está ali. A energia passa, entra e sai de um modo tão intenso, tão vivo, mas que quase ninguém se dá conta. E essa intensidade me fascina. Quando vejo alguém pela primeira vez, sinto a pessoa. E não é nada fora do comum, nada sobrenatural. É simples. Energia. Pura e simples energia. Que está ali, na pessoa e em mim. Em mim e na pessoa. A gente se olha, fala, ouve, respira. O corpo fala. E aí eu sei. Você sabe. É só prestar atenção... é saber-se capaz de perceber o algo mais. É saber-se capaz de ler na entrelinhas. No silêncio, na pausa. No que a pessoa não diz. Interpretação.
Mas eu queria – a, como eu queria – ser a lavadeira do interior. A camponesa humilde. A mulher de pé no chão
(17/06/05)