terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tudo por não estarem mais distraídos

Como não estou afim de escrever mais nada, aqui vai um texto que fiz há tempossss no fotolog. Escrevi a parada em 2005, mas é impressionante como é atual. Infantil, talvez, mas atual. Pois é. A vida é cíclica...


Tudo, tudo por não estarem mais distraídos...

É impressionante como a Lei de Murphy se faz presente. Na verdade, acho que não é nem culpa do coitado do Murphy. É mais culpa da Clarice Lispector, uma coisa meio “por não estarem distraídos”, sabe.
Não sei se é só comigo – é, o universo às vezes conspira contra mim – ou se todo mundo sente isso. Só sei que quando não reparo nas coisas elas acontecem, se desenrolam, fluem. Agora, é só eu começar a reparar, prestar atenção e querer de verdade que aconteça, que a coisa toda trava. Empaca. Fode mesmo.
Talvez se eu não pensasse tanto. Mas não tenho como parar de pensar. Quando me pego analisando, raciocinando, reparando, invejo profundamente as pessoas simples. A lavadeira do interior. A camponesa humilde. A mulher de pé no chão. Ícones de pessoas que levam a vida de um jeito mais simples, menos pensante. Mas não tenho como evitar. Penso, analiso, raciocino, reparo. Sou assim. E adoro. E detesto. E tem horas que só o que eu preciso é fugir. Escalar o Everest. Andar na Bahia com a água molhando o pé. Ver o pôr e o nascer do sol. Simplificar. Sair daqui.
Mas sozinha não tem graça. Sozinha não quero. Sou comunicativa. Preciso falar, ouvir, aprender. Preciso ver o pôr do sol e chorar com alguém. Preciso olhar as estrelas e rir com alguém. Preciso. Preciso criar teorias infundadas sobre a vida. Inventar constelações. Ter imensas conversas que não levam a nada. E que ao mesmo tempo, a tudo. Preciso. Preciso de reciprocidade. De cumplicidade. De verdade. Preciso.
Preciso daquele contato com os olhos. Aquele olhar que diz tudo, sem dizer nada. Mesmo sem som, a comunicação existe, está ali. A energia passa, entra e sai de um modo tão intenso, tão vivo, mas que quase ninguém se dá conta. E essa intensidade me fascina. Quando vejo alguém pela primeira vez, sinto a pessoa. E não é nada fora do comum, nada sobrenatural. É simples. Energia. Pura e simples energia. Que está ali, na pessoa e em mim. Em mim e na pessoa. A gente se olha, fala, ouve, respira. O corpo fala. E aí eu sei. Você sabe. É só prestar atenção... é saber-se capaz de perceber o algo mais. É saber-se capaz de ler na entrelinhas. No silêncio, na pausa. No que a pessoa não diz. Interpretação.
Mas eu queria – a, como eu queria – ser a lavadeira do interior. A camponesa humilde. A mulher de pé no chão
(17/06/05)

Um comentário:

Anônimo disse...

Talvez seja o tal benefício da ignorancia. Algo assim.

Eu ando incomodada por pensar demais, por desejar demais. Eu também queria deixar acontecer. O problema é que logo depois de pensar que vou deixar rolar, penso que queria muito que X acontecesse...e então já não estou deixando fluir.

Acho que nem consigo me explicar, rs.

Seja como for, eu me identifico com seu texto, e me identificar com outras pessoas me faz sentir mais ligada ao universo, menos perdida. Valeu =)